PERGUNTA-ME ALGO SOBRE CERVEJA - PARTE 2
Olá pessoal! Se vocês estão nos acompanhando nas redes sociais já repararam nos post do “Ask me something about beer”. A tradução seria algo como o título desse post, pergunta-me algo sobre cerveja! Eu vou ir agrupando os posts do Facebook aqui, sempre tentando expandir um pouco no texto, já que acredito que quem vem até aqui, está um pouco mais interessado na leitura.
Como eu expliquei no primeiro post, a ideia surgiu justamente de reparar que muitos dos influencers cervejeiros respondem muito das suas perguntas com “DEPENDE”.
Imagino que muita gente pensa que nós, os 'nerds cervejeiros', entramos nesse mundo por causa de uma cerveja específica ou um estilo. Mas, a maioria dos apaixonados por cerveja não são fiéis a um estilo ou uma cerveja específica. O que nos apaixona é justamente o oposto: a inesgotável descoberta de novas cervejas. Por isso também adoramos uma BrewVenture. E também por isso fica muito difícil escolher um estilo, um rótulo ou até mesmo um destino cervejeiro
Para explorar esses assuntos, iniciei essa série de posts explicando, pelo menos pra mim, porquê a resposta é depende. Na primeira parte, respondi as perguntas sobre qual a minha cerveja favorita e o meu estilo de cerveja favorito. Hoje, vamos falar sobre a minha preferência no que diz respeito a formato de venda da cerveja e qual seria o meu destino cervejeiro favorito. Bora?!
À esquerda, o “keg” que eu tenho em casa para evitar ter que engarrafar tanta cerveja. No centro, a geladeira/frigorífico do “Zapfhahn” em Bamberg cheia apenas de garrafas locais. À direita, um copo de Guinness ostentando um belo e cremoso colarinho, graças à esfera de nitrogênio/azoto.
Você prefere cerveja da torneira, de garrafa ou lata?
Depende! Claro, mas essa é fácil de explicar. Uma vez que decidimos aprender um pouco mais sobre cerveja, percebemos que algumas cervejas são tradicionalmente produzidas em um ou outro formato de venda. Os sabores e aromas de uma cerveja mudam com o tempo. Por isso, devemos também olhar para o formato de venda do ponto de vista de armazenamento.
Mas vamos por partes:
Torneiras/Chopp: O que não vemos é que atrás da parede cheia de torneiras do nosso bar favorito estão os “kegs” ou barris. São recipientes pressurizados e muito funcionais para a distribuição da cerveja. Muitos estilos de cerveja começam a perder aroma e sabor muito rápido, e a vida útil de uma cerveja não pasteurizada em “keg”/barril é de cerca de 60 dias.
Sendo assim, beber dessa cerveja significa beber cerveja fresca com todo o seu potencial de sabor e aroma. Bebidas como vinho e cerveja foram armazenadas e distribuídas em barris de madeira por muitos anos. Hoje em dia, a maioria dos “kegs” são feitos de aço inoxidável, oferecendo proteção contra os efeitos da luz, do oxigênio e das contaminações.
No Reino Unido, os “Casks” são os barris mais tradicionais, e produzir “Cask Ale” é toda uma religião. Se vocês quiserem saber mais sobre isso, eu recomendo assitirem a série chamada “Keep the cask alive” (em Português, Mantenha o Cask vivo) do “Craft Beer Channel”. Essa série foi crucial para o governo britânico iniciar a discussão sobre um processo de candidatura para o “Cask” como patrimônio cultural imaterial da UNESCO. Eu estou na torcida!
Cerveja em garrafa: Vidro é um ótimo recipiente inerte para cerveja, não por acaso frequentemente bebemos a cerveja em copos de vidro. As garrafas também podem ser usadas para envelhecer certos estilos de cerveja, embora sejam poucos os que se beneficiam deste processo.
Dependendo da cor da garrafa, a cerveja pode estar mais ou menos exposta ao efeito da luz. As garrafas escuras protegem mais, enquanto as transparentes ou verdes deixam a cerveja mais suscetível ao que chamamos “light-struck”. Isso acontece quando a luz incide na cerveja e altera certas moléculas, principalmente gerando sabor e aroma que lembra gambá ou fede-fede. E eu sei que muita gente adora essa característica em cervejas de garrafas verdes como a Heineken, eu dispenso!
Outro aspecto que pode nos fazer preferi garrafas ao invés de latas é a pressão. Garrafas como as de espumante tem uma parede mais espessa e toleram uma maior quantidade de pressão. Sendo assim, para estilos com altos níveis de carbonatação, armazenar a cerveja nessas garrafas seria uma prática mais segura.
Cerveja em lata: As latas oferecem benefícios semelhantes as garrafas (inertes, fáceis de carregar, empilhar, transportar), com a adição de protegerem contra a luz. Ainda, as latas são excelentes telas para o marketing, e muitas marcas colocam toda sua criatividade para fazer latas que apelam ao nosso gosto visual. Pessoalmente, eu prefiro comprar latas quando vou ao supermercado.
Ainda, elas são compatíveis com a utilização dos dispositivos de nitrogênio/azoto inventados pela Guinness, que entregam uma melhor experiência de degustação em estilos como “Irish Stout” ou “Irish Red Ale”.
Por fim, muitas cervejas são ainda finalizadas em termos de processo no seu formato de venda. Estilos como “Geuze” ou “Weissbier” por exemplo (e outros), passam por uma segunda etapa de fermentação na garrafa. E digo para vocês, eu mesmo ouvi de um alemão conhecedor de cervejas que ele jamais beberia uma “Weissbier” de um keg/barril, sempre da garrafa! Para eles, essa é uma parte do processo que nunca deveria deixar de ser feita. Espero que agora vocês concordem comigo, que pelo menos para essa pergunta, a melhor resposta é realmente DEPENDE!
Qual o seu destino cervejeiro favorito?
Depende né!? Porque eu tenho o destino favorito para a próxima viagem, e o destino favorito dos lugaras que já visitei. 😅
Em relação a próxima viagem, eu escolheria fácil a Bélgica! A BrewVenture Belga está no topo da minha lista. Com tantos estilos de cervejas maravilhosos, como eu poderia escolher outro lugar? “Lambic”, “Geuze”, “Dubbel”, “Belgian Pale Ale”… a lista é maior do que as justificativas que eu tenho para já estar pensando em outra viagem cervejeira.
Sem falar que a Bélgica é um país pequeno cheio de cervejarias históricas e bares imperdíveis como o “Kulminator”. Dessa forma, a logística deve facilitar a exploração. O problema seria realmente escolher quais lugares visitar, já que são tantos (reparem na quantidade de pontos marcados no meu mapa à direita). Eu provavelmente começaria com um dos tours do “Beer Secret” para receber umas dicas de ouro e não me sentir completamente perdido. Depois seguiria as recomendações deles até metade dos bolicheiros me conhecerem pelo nome 😂
Mas mal posso esperar para visitar lugares como a “Brasserie Cantillon”, e todas as Abadias Trapistas como a “Westvleteren”, “Westmalle”, “Chimay”, “Orval” e outras. Outro lugar a não perder é a “De Dolle”. Eu tive o privilégio de participar de uma degustação de 10 garrafas da cerveja especial de Natal que eles fazem, a “Stille Nacht”, aqui em Thessaloniki no ano passado. Devo admitir que a minha capacidade sensorial estava fortemente afetada depois da sétima, oitava garrafa, mas foi incrível ver as diferenças entre cada garrrafa, sabendo que a base da cerveja é mais ou menos a mesma. É uma cervejaria muito criativa que merece uma visita.
Passando para o destino que eu mais gostei até agora, foi só refletir sobre uma questão. Se amanhã eu pudesse ir para algum deles, qual seria? Foi fácil, BAMBERG!!!
Eu só passei uma tarde e uma noite em Bamberg, mas foi suficiente para encantar o meu gosto defumado. Fui embora implorando por mais, especialmente explorar as pequenas cervejarias dos arredores da cidade, fora do centro. E claro, vocês já sabem que eu sou um grande fã de cervejas defumadas (“Rauchbier”) – e é aqui que essa tradição se mantem viva e vibrante! Principalmente graças ao trabalho da “Schlenkerla” e da “Spezial Brauerei”, que continuam defumando o seu próprio malte e abastecendo toda a indústria local. Se quiserem conferir todos os relatos dessa visita a Bamberg, leiam o post sobre a parte alemã da primeira BrewVenture aqui.
A Alemanha no geral impressiona pela quantidade de cervejarias, e Bamberg é um desses lugares. Eu lembro de entrar no “Zapfhahn” e ver uma geladeira/frigorífico cheio de cervejas. Quando eles me alcançaram o menu das cervejas, havia um pequeno mapa mostrando que todas aquelas cervejas eram produzidas nos arredores de Bamberg. Enfim, o suficiente para encher uma geladeira/frigorífico de duas portas. Díficil era escolher, e por isso gostaria de voltar com mais tempo e explorar a cena cervejeira de Bamberg calmamente.
Por hoje é tudo. Se vocês tiverem qualquer tipo de pergunta sobre cerveja, fiquem a vontade para enviar um email ou uma mensagem em qualquer uma das nossas redes sociais. A sua pergunta pode ser o tema do nosso próximo post! Obrigado por nos acompanhar! Saúde!