Estilos do BJCP classificados por história: Wheat Beer - Weizenbock

Olá! E aqui estamos para mais uma avaliação de cervejas. É o nosso terceiro capítulo dentro da categoria “Wheat Beer” dos estilos classificados por história. Lembrando que nessa categoria temos as "Weissbier", as "Dunkles Weissbier", as "Weizenbock", as "Witbier" e as "American Wheat Beer". Hoje vamos falar sobre as "Weizenbock", e assim dar por encerrada a caracterização dos estilos alemães dessa categoria. E para entender um pouco melhor o que o termo "bock" representa vamos ter que voltar séculos atrás. A família de cervejas "bock" remete a um tipo de cerveja que era produzido desde o século XIV, na cidade de Einbeck, no que hoje é o Norte da Alemanha. Essa cidade fazia parte da Liga Hanseática, uma espécie de acordo comercial/bloco econômico que dominou o Norte da Europa e o Mar Báltico entre o século XII e XVII. Dentro dessa Liga, essa cerveja que apresentava um teor de álcool mais alto fazia furor entre consumidores dos Flanders até a Scandinávia. A partir daí existem versões diferentes para chegarmos a palavra "bock". Existe a versão fundamentada em um regionalismo alemão, e diz que as pessoas da região da Bavária tinham um sotaque diferente e que a pronuncia "Einbeck" parecia "Ein bock". "Ein bock" significaria um tipo de carneiro, e por isso até hoje alguns garrafas de "bock" tem carneiros em seus rótulos. E outra versão diz que a cerveja era vendida e muito bem publicitada como "Ainpökisch bier". Depois de muito tentarem sem sucesso reproduzir a cerveja em Munique (Sul da Alemanha), eles contrataram um mestre cervejeiro da cidade de Einbeck e começaram a vender a cerveja com uma distorção no nome para "Oanpock bier". Esse termo foi logo reduzido para "bock bier" e assim ficou. Escolham a versão que preferirem, mas é fato que os rótulos de muitas marcas tem um carneiro.🤷

Porém, existem vários estilos de "bock" ("Helles Bock", “Doppelbock") e hoje vamos focar nas "Weizenbock". Esse "weizen" já entrega a utilização da mesma levedura dos estilos "Weissbier" e "Dunkles Weissbier", e que trás aquele componente sensorial muito característico com notas de ésteres de banana e o fenólico de cravo/cravinho. Porém, essa é uma cerveja produzida para ter mais corpo e com maior teor alcoólico. Assim, o componente da levedura não pode aparecer sozinho e pode ter uma intensidade até média para baixa. Ela tem interpretações tanto claras como escuras, embora as versões escuras sejam mais tradicionais e as claras adaptações mais modernas. E para essa avaliação tivemos uma representante de cada vertente. Representando as escuras, temos a cerveja que deu origem ao estilo, a "Schneider Weisse Aventinus". No lado das claras, avaliei a "Weihenstephaner Vitus".   

Começando pela "Aventinus", o aroma apresentou grande riqueza de malte com notas doces de caramelo em média-baixa intensidade. Ainda, em menor intensidade também se encontravam notas de grãos mais tostados e frutos secos como nozes. Em segundo plano, também em intensidade baixa, percebia-se o ésteres frutados de banana e o componente fenólico do cravo/cravinho da levedura. Esse frutado de banana também se confundia com o dulçor do malte e fazia lembrar um pouco passas. O BJCP preconiza que nesse estilo se encontre a riqueza do malte, e no caso das "Weizenbock" mais escuras isso se traduziria em uma riqueza mais tostada com produtos de Maillard. Ainda, é aceito notas de caramelo e ésteres de frutas como ameixa, uvas roxas e passas (especialmente com o envelhecimento). Assim sendo, essa amostra apresentou vários descritores do guia de estilos do BJCP. Na cor, seria um âmbar escuro até um escuro marrom-rubi, com uma espuma levemente bronzeada. O colarinho deve ser alto e cremoso, com longa retenção. Como podem ver na foto, a cor se enquadra na descrição, algo entre o âmbar e o marrom. O colarinho também teve a formação e retenção descrita para o estilo.

No sabor, o malte apareceu rico e com alta intensidade, trazendo notas de caramelo e toffee com a complexidade das reações de Maillard. Semelhante ao aroma, a banana e o cravo/cravinho da levedura se desenvolviam em segundo plano. O final trazia novamente a riqueza do malte. O BJCP apresenta as mesmas características que no aroma e, portanto, essa amostra pareceu bastante adequada ao preconizado para o estilo. Em termos de sensação de boca, o corpo era cheio e a carbonatação alta. Essa alta carbonatação trazia uma certa sensação de cremosidade e um leve formigamento de língua, agradável. Ainda, notou-se um ligeiro aquecimento alcoólico. Novamente, todas essas características vão de encontro ao preconizado pelo guia de estilos do BJCP. Sendo assim, a impressão geral dessa amostra foi excelente. Uma amostra que expressou uma quantidade e qualidade de malte destacada tanto no aroma, quanto no sabor, bem como na cor e na sensação de boca. Tudo, sem deixar de trazer o componente típico da levedura "weizen". 

Passando para a "Weihenstephaner Vitus". O aroma também apresentou uma riqueza de malte com destaque para o trigo e suas notas de cereal e pão de intensidade média. O componente da levedura se apresentou de intensidade média para alta, onde se percebia os ésteres frutados de banana e o fenólico do cravo/cravinho. Um aroma alcoólico moderado também era perceptível, com um caráter quase de solvente. Sendo uma representante loira do estilo, o BJCP preconiza a riqueza do malte se apresentando mais como dulçor de cereal, pão, e alguma riqueza de malte tostado. Embora não tenha notado nenhuma nota mais tostada, os demais descritores estão de acordo. A única ressalva seria o aroma alcoólico que está mesmo no limite para o cheiro mais solvente que não se enquadra a basicamente nenhum estilo. Em termos de aparência, a cor deve ser do dourado ao âmbar com o colarinho branco e com as mesmas características de formação e retenção já descritas. Alguma turbidez é considerada normal dado a utilização de trigo e a própria característica da levedura. A cerveja realmente apresentou esse amarelo dourado levemente turva. O colarinho teve formação e retenção média, mas a espuma era densa e cremosa como preconizado para o estilo.

No sabor, o frutado da levedura apareceu em primeiro plano lembrando banana bem madura quase passada, de intensidade média-alta. Algum dulçor que remete mais a cereais e pão e o fenólico do cravo/cravinho eram notáveis em segundo plano, com intensidade média-baixa. O equilíbrio caía para o lado da levedura, com a banana mantendo o seu destaque com um final um pouco persistente. O BJCP descreve novamente uma riqueza de malte que nas versões mais claras lembraria mais cereais, pão e riqueza de malte tostado. O componente da levedura deveria aparecer em intensidade média para baixa e o final deveria ser seco. Desta forma, em termos de sabor essa amostra apresentou algumas falhas de estilo que poderiam ser corrigidas com um maior controle da temperatura de fermentação, e/ou aumento da quantidade de malte de alta qualidade como o malte Munique. A sensação de boca foi de um corpo cheio e de uma cerveja altamente carbonatada. Ainda, uma certa cremosidade era percebida mas sem o aquecimento alcoólico que seria expectável nesse estilo. 

Assim, a impressão geral ainda foi muito boa, mas a necessidade de pequenos ajustes é evidente. O corpo cheio e a cremosidade elevam a experiência, mas o frutado da banana se sobrepõe a outras características importantes no sabor. Esses ésteres de banana se expressam em temperaturas específicas, e a redução da permanência da fermentação nessa temperatura poderia permitir que essas outras características aparecessem, inclusive a percepção alcoólica. O alto dulçor reduz a percepção alcoólica (todo mundo que já fez uma caipirinha sabe que é verdade 😜) que deveria aparecer no sabor e não só no aroma para esse estilo. É um estilo complexo, e infelizmente esse equilíbrio entre riqueza de malte, complexos componentes de levedura e alto teor alcoólico não estava perfeito nessa amostra. As duas amostras avaliadas nessa sessão não são propriamente comparáveis por uma ser escura e a outra clara, mas a primeira amostra apresentou um melhor enquadramento de estilo do que a segunda.

Portanto, essa foi a avaliação do estilo "Weizenbock". Para concluir as "Wheat Beer" dos estilos do BJCP classificados por história só nos faltam as "Witbier" e as "American Wheat Beer". Como não devo conseguir um exemplo comercial de "American Wheat Beer", devemos concluir essa categoria no próximo post com a avaliação de uma "Witbier" e uma discussão mais teórica das "American Wheat". Até a próxima! 

Anterior
Anterior

Estilos do BJCP classificados por história: Wheat Beer - Witbier & American Wheat Beer

Próximo
Próximo

"WSET Level 2 Award in Beer" com distinção! 🤓